A relatividade do conceito do belo é algo tão antigo quanto a origem da vida. Especificamente falando sobre a espécie humana, temos vários relatos históricos sobre os mais variados padrões de beleza, o que é importante do ponto de vista das mudanças de percepção de valor do que é belo, porém, não deve ser considerada uma referência absoluta de um padrão estético único para cada época. Ou seja, referenciar as preferências de beleza ao longo dos séculos não significa excluir ou diminuir as outras formas que estão fora desses padrões.
Desde a Antiguidade, o culto ao belo faz parte da cultura de diferentes sociedades. Em outras palavras, os padrões de beleza estão em constante processo de mutação, não sendo representados por um modelo universal e sofrendo influências de variáveis sociais, culturais e até mesmo biológicas.
Durante a Pré-História, o corpo era considerado a arma de sobrevivência dos indivíduos, tanto para a caça quanto para a fuga dos predadores. Mesmo assim, os padrões de beleza já tinham notoriedade quando o homem começou a viver em grupos. Criou-se uma hierarquia, e os homens que estavam no topo utilizavam elementos como as garras e os dentes de animais para a diferenciação dos demais. Enquanto isso, a obesidade representava o ideal estético perfeito para as mulheres. Nesse caso, ela era associada à fertilidade e à disponibilidade de recursos.
Vários filósofos ao longo de nossa história mergulharam no tema da beleza. Alguns, notadamente, tiveram uma atenção maior no tema sobre a estética humana, sempre valorizando as predileções de suas épocas. Os gregos e romanos discorreram extensamente sobre o tema. Platão, Homero, Dante Alighieri, Virgílio e Heródoto são alguns nomes que contribuíram para eternizar o assunto.
A única época em que não houve o domínio de algum padrão de beleza se deu na Idade Média. Graças à forte influência da Igreja, os hábitos de higiene dos gregos e dos romanos foram deixados de lado. Pregava-se que os cuidados com corpo era algo profano, imoral e indecente, já que contradiziam as leis divinas. Acreditava-se que a beleza era uma consequência da sua obediência, devoção, pureza e castidade, assim como a Virgem Maria. Para o sexo masculino, essas questões estavam ligadas ao poder, tanto que a maior referência para os homens era o rei.
No período Renascentista, os valores humanistas retornaram, assim como a adoção de padrões de beleza da Antiguidade. As pinturas se tornaram mais sedutoras, com os corpos à mostra. Nos quadros, as mulheres exibiam os cabelos longos e formas avantajadas, enquanto os homens se apresentavam um corpo sem pelos e com músculos. No século XIV, durante este mesmo período, existia um modelo de padrão que se baseava no tamanho da testa. Quanto mais aparente ela fosse, mais bonita seria considerada a pessoa pela sociedade da época. Alguns historiadores afirmam que muitas mulheres arrancavam os cabelos ou aplicavam uma solução química no couro cabelo para obter uma testa maior. No século XV, ideais greco-romanos também voltam a imperar nessa época. A obesidade representava status, riqueza e ostentação — o que só estava disponível para um seleto grupo da nobreza.
Com o passar do tempo, a sociedade passou a valorizar corpos magros e foram entre os séculos XVI e XVIII que isso ganhou maior importância. Há relatos históricos de que as mulheres usavam espartilhos e corpetes para ajustar a cintura e garantir uma aparência mais bonita. Se hoje a pele dourada é vista como um sinal de beleza e charme, no século XVII talvez fosse visualizado como uma marca negativa para as mulheres que desejassem atingir um modelo de beleza ideal. Isso porque nessa época a pele branca era considerada como um dos principais sinais de beleza. Alguns historiadores apontam que as mulheres chegavam a perder sangue para atingir uma cor mais pálida.
Mais tarde, no século XIX, corpos avantajados voltaram a ser valorizados, especialmente entre a classe burguesa. O contexto histórico, a Revolução Industrial, também contribuiu para a distinção entre as classes e a propagação da riqueza por parte de um grupo seleto na sociedade. Vale ressaltar que somente no século XX, a partir das mudanças culturais, as mulheres conseguiram conquistar mais emancipação e independência — sendo essa uma importante vitória para a classe. Nesta época, o modelo de homem ideal era modulado por esportistas e celebridades. A característica marcante é que inteligência passa a ser sinônimo de riqueza. Os homens ricos são referenciados pelo seu poder e pela sua liderança. Em suma, do século XX em diante nós temos o tipo de padrão de beleza que hoje encontramos nas ruas e, principalmente, nas passarelas. Pele bronzeada, cabelo liso, corpo magro, músculos torneados, seios fartos e bumbum empinado.
No entanto, vale ressaltar que vários movimentos têm ganhado fôlego, diluindo assim o conceito ideal de beleza do século XXI, como os que buscam reconhecer a beleza em todo tipo de corpo ou de cabelo: liso, crespo, preto, vermelho, loiro etc. A beleza está presente em todas as idades, etnias e culturas. O belo está em você, não duvide disso.
Até mais.
Cláudio Cordeiro